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Design e Sustentabilidade: Como criar soluções éticas, inclusivas e de baixo impacto ambiental

  • Foto do escritor: Tainá Mathias
    Tainá Mathias
  • 25 de jul.
  • 6 min de leitura

Design que cuida, transforma e permanece

E se cada escolha de design pudesse regenerar mais do que consumir? E se projetar algo novo significasse respeitar o que já existe — o território, a cultura, as pessoas e o planeta?

Quando integramos esses pilares, com foco em design e sustentabilidade, surge o design sustentável: uma abordagem que vai além da estética ou da eficiência técnica. Ele une forma, função e responsabilidade. É uma prática que olha para o ciclo de vida das coisas, para o impacto social das decisões e para o valor de soluções pensadas com empatia, longevidade e ética.

Mais do que uma técnica, o design sustentável é uma postura. Ele considera o planeta como parceiro de projeto e entende que toda criação gera consequências — ambientais, culturais, econômicas e humanas.

Neste artigo, você vai conhecer os fundamentos, referências, métodos e possibilidades práticas de um design que cuida enquanto cria — e que pode ser aplicado por organizações, estúdios, iniciativas sociais e empresas que buscam inovar com consciência.


Copos biodegradáveis feitos de mandioca com corantes naturais como cúrcuma, em tons pastel, ao lado de lavandas e folhas verdes. Embalagens sustentáveis, comestíveis e ecológicas da OKA Bioembalagens.
Embalagens feitas de mandioca, possuem corantes naturais, como a cúrcuma, são comestíveis e biodegradáveis. Fonte da Imagem: OKA Bioembalagens

O que é design sustentável (e o que o diferencia do ecodesign)

Design sustentável é uma filosofia de projeto que integra responsabilidade ambiental, inclusão social e viabilidade econômica. Não é apenas sobre usar materiais recicláveis, mas sobre pensar todo o sistema que envolve uma solução.

Enquanto o ecodesign se concentra na redução do impacto ambiental — como menor consumo energético ou descarte adequado —, o design sustentável amplia essa lente e incorpora questões como:

  • Condições de trabalho justas

  • Diversidade e acessibilidade

  • Ciclos produtivos mais curtos e colaborativos

  • Longevidade dos produtos e experiências


É um pensamento sistêmico que reconhece: tudo o que projetamos deixa uma marca — a questão é qual marca queremos deixar.



Um pouco de história: raízes, evoluções e influências

A ideia de projetar com consciência não é nova. Um dos pioneiros desse pensamento foi Victor Papanek, autor de Design for the Real World:


“O design deve ser uma ferramenta para a solução de problemas reais e urgentes.”

Ao longo das últimas décadas, surgiram conceitos que alimentaram essa visão:


Cradle to Cradle (do berço ao berço)

No sistema C2C tudo o que é produzido deve voltar ao ciclo como nutriente.

Diagrama ilustrando o sistema Cradle to Cradle com dois ciclos fechados — biológico e técnico — mostrando como os produtos retornam como nutrientes ao sistema.
Fonte da imagem: Idéia Circular

Economia circular

Traz o conceito de eliminar a ideia de “lixo” ao criar fluxos contínuos de materiais e recursos.

Gráfico circular com os três princípios da economia circular: eliminar desperdício e poluição, regenerar a natureza e manter o uso de produtos e recursos renováveis.
Fonte da imagem: Mundo Isopor

Design sistêmico

Para enxergar além do produto — o contexto, os atores, os fluxos e o tempo.

Mapa circular com competências e fases do design sistêmico, incluindo ações como identificar padrões, estudar problemas complexos, planejar intervenções e implementar soluções regenerativas.
Fonte da Imagem: https://www.sympla.com.br/evento/oficina-de-pensamento-sistemico-virtual/801413 DINÂMICA DE SISTEMAS – desenvolvido na faculdade de administração do MIT (EUA)

Essa evolução mostra que o design sustentável não é um nicho: é a base de uma nova economia.



Quem inspira: autoridades e instituições que moldam esse movimento

Alguns nomes e organizações têm impulsionado a adoção do design sustentável no mundo:

  • Ellen MacArthur Foundation: atua globalmente promovendo a economia circular e aponta os designers como agentes-chave da transição.

  • Christian Ullmann, do IED Brasil, defende que o design é uma ponte entre a inovação e a justiça social.

  • Victor Papanek, como citado, abriu caminho para designers mais comprometidos com o impacto real.


Essas vozes compartilham uma mesma convicção: design não é neutro — e deve ser parte ativa da mudança.



Por que adotar o design sustentável? (Benefícios reais)

Redução de resíduos e emissões

Projetos mais conscientes usam menos matéria-prima, geram menos descarte e prolongam a vida útil dos produtos e serviços.


Valorização da marca

Consumidores, investidores e parceiros estão mais atentos a práticas éticas. A reputação de uma marca sustentável cresce — e fideliza.


Impacto social ampliado

Projetos duráveis, acessíveis e produzidos com justiça colaboram com a inclusão de públicos diversos e comunidades locais.


Inovação e diferenciação

Desafiar os modelos tradicionais abre espaço para novas soluções, processos colaborativos e aprendizados interdisciplinares.



Exemplos que inspiram (de fora e de dentro)

  • IKEA: além do design modular, a marca se compromete a usar apenas materiais recicláveis e fontes renováveis até 2030.

  • Patagonia: permite reparos gratuitos nas peças e promove o consumo consciente como parte de sua missão.

  • WikiHouse: um sistema open-source de construção com madeira CNC, acessível, replicável e sustentável.


Design e Sustentabilidade no Brasil:

Projetos como mobiliário feito com sobras de madeira, coletivos de moda sustentável e empreendimentos sociais em favelas já colocam em prática esse novo jeito de criar com sentido — mesmo sem grandes recursos. A OKA Bioembalagens, fundada pela designer Érika Cezarini em Botucatu (SP), é um exemplo brasileiro de design sustentável que olha para a mandioca como matéria-prima regenerativa. Com base em princípios de biomimética, cada produto — copos, potes, colheres e bowls — é feito com fécula de mandioca e fibras naturais, devolvendo-se à terra como composto ou até sendo ingerido.


Em 2023, a OKA foi a primeira empresa brasileira a receber o certificado de embalagem comestível, promovendo uma nova forma de design que reduz drasticamente o uso de plástico e poluentes. O uso de fécula local e o consumo mínimo de água — cerca de 50 vezes menor que o plástico — reforçam seu impacto ecológico positivo.


Recentemente, a empresa lançou o projeto Dooka, um modelo de licenciamento social para instalar biofábricas em comunidades indígenas e ribeirinhas — utilizando resíduos agroextrativistas da Amazônia na biomassa — e gerando emprego, renda e produção local regenerativa.


A trajetória da OKA ilustra que design sustentável é tecnologia humana e ancestral: desde a observação de raízes até a fabricação modular descentralizada, unindo design, comunidade e propósito.


Bowls comestíveis produzidos com fécula de mandioca pela OKA, contendo vegetais e raízes, dispostos sobre fundo colorido azul e marrom. Embalagens sustentáveis e biodegradáveis inspiradas na natureza.
Bowls feitos com fécula de mandioca, comestíveis, produzidos pela OKA. Fonte da imagem: Divulgação / Oka Embalagens

Inclusão e sustentabilidade: uma mesma pauta

Sustentabilidade não se sustenta sem inclusão. Projetar um ambiente ou produto que exclui pessoas com deficiência, idosos ou populações periféricas é desperdiçar inteligência, diversidade e impacto.

O design sustentável reconhece que não basta ser ecológico — precisa ser justo. Isso envolve:

  • Pensar interfaces acessíveis

  • Usar linguagem inclusiva

  • Criar produtos adaptáveis a diferentes contextos culturais e físicos

  • Garantir que o design funcione para mais de um tipo de corpo e realidade



Aplicações reais em diferentes setores

Organizações, empresas e projetos de impacto social podem aplicar design sustentável de forma prática:


Embalagens

Reduzir materiais, usar papel reciclado ou criar embalagens reutilizáveis.


Interfaces e serviços

Sites leves que consomem menos dados, com navegação intuitiva e acessibilidade embutida.


Ambientes físicos

Mobiliário feito com materiais locais e duráveis, iluminação natural, ventilação cruzada.


Comunicação

Impressos conscientes, estratégias digitais inclusivas e tom de voz acolhedor e responsável.



Como aplicar: uma metodologia possível

Aplicar design sustentável não exige grandes investimentos — mas sim atenção, escuta e intencionalidade.

  1. Diagnóstico e escuta ativa: entenda o contexto social, ambiental e humano do projeto.

  2. Pesquisa de materiais e tecnologias locais: valorize o que já existe ao redor.

  3. Prototipagem e testes rápidos: melhore com base em feedback real.

  4. Avaliação de impacto: meça e ajuste para reduzir resíduos, ampliar inclusão e gerar valor.



Como te apoiar essa jornada?

No Estúdio de Design Inclusivo, entendemos o design como um meio de cuidar. Atuamos com:

  • Consultorias e diagnósticos sistêmicos de design inclusivo, ecológico e acessível;

  • Workshops de cocriação com equipes, comunidades e redes de inovação;

  • Projetos de identidade, UX/UI e serviços com foco em sustentabilidade real — não só na aparência, mas na lógica de uso e no ciclo de vida.


Quer experimentar um outro jeito de criar? A gente caminha com você.



Design como escolha política e poética

Projetar é decidir. Decidir o que entra, o que fica de fora. Decidir para quem. E, principalmente, decidir como e por que criar. O design sustentável é esse convite: criar com mais propósito, menos desperdício e mais presença.



Qual a diferença entre ecodesign e design sustentável?

O ecodesign prioriza o impacto ambiental. O design sustentável amplia o olhar para incluir questões sociais, culturais e econômicas.


É viável aplicar design sustentável em projetos pequenos?

Sim. Usar materiais recicláveis, priorizar acessibilidade ou reduzir consumo digital já são passos valiosos.


Como isso ajuda na inclusão?

Ao projetar considerando a diversidade humana, criamos soluções que acolhem mais pessoas e geram menos exclusão.


Quais materiais são mais ecológicos?

Bambu, tecidos orgânicos, reciclados, biocompósitos, argila, papel semente... o ideal é sempre buscar o que é local e regenerativo.


Como medir os resultados?

Indicadores como redução de resíduos, eficiência energética, durabilidade e feedbacks de usuários são bons termômetros.


Por onde começar a fazer um design sustentável?

Com um diagnóstico claro, objetivos realistas e muita escuta. A sustentabilidade começa com consciência — e se constrói com intenção.


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